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FIZ UMA CESARIANA E NÃO SOU MENOS MÃE POR ISSO

Embora todas as gravidezes sejam diferentes, há uma coisa que inevitavelmente todas têm em comum: o nascimento do bebé. Se por um lado, estamos desejosas para conhecer o nosso filho, por outro, queremos adiar ao máximo o momento do parto. Hoje venho falar sobre o parto do Vicente.

Passei o último trimestre da gravidez a falar todos os dias com a minha barriga e a pedir gentilmente ao meu filho que deixasse de estar sentado e que desse a volta. Bebé sentado é passaporte direto para uma cesariana e eu queria muito ter um parto normal.

A minha barriga tinha um tamanho bastante generoso para o Vicente dar a volta. Alguns bebés vivem os nove meses dentro de um T0 apertado. O Vicente, no entanto, viveu toda a gravidez num confortável T4 com espaço mais do que suficiente para fazer todas as acrobacias do mundo. Eu só pedia que ele fizesse uma: o pino! Mas o gorducho sai à mãe e, claro, ginástica não é com ele.


O Vicente nasceu de cesariana programada às 39 semanas e 4 dias. Confesso que no dia do parto cheguei ao hospital com a esperança que me dissessem "O seu filho deu a volta! Pode voltar para casa.". Só que isso não aconteceu e umas horas mais tarde já estava o bisturi prontinho para cortar a minha barriga.

Durante as aulas de preparação para o parto, a enfermeira, consciente desta minha obsessão pelo parto normal, dizia constantemente "Flávia, uma mãe não é menos mãe por fazer uma cesariana". Mulher sábia não é?! Mas, na minha ingénua cabeça, isso não era bem assim: mãe que passa por um parto normal é mais mãe do que a que passa por uma cesariana. Tolices minhas!

Ouvi um amigo do Fábio dizer-lhe: "Depois do parto vais admirar ainda mais a tua mulher. Elas são umas super-mulheres. Não dá para entender onde vão buscar tanta força". Eu queria ser uma super-mulher aos olhos do meu marido. Queria poder dizer-lhe inesperadamente "Rebentaram as águas. É agora!". Queria sentir aquela adrenalina de irmos para o hospital sem saber quando é que o Vicente ia nascer. Queria parir o nosso filho e dar-lhe a oportunidade de cortar o cordão umbilical. Queria muitas coisas que não aconteceram.

Quis Deus que eu não tivesse dores e que não tivesse de esperar muito para ter o Vicente nos meus braços. Quis Deus que eu tivesse uma cesariana!

Uma mãe não se define pelos partos que teve. Uma mãe define-se pelo amor que dá aos seus filhos, pela sua entrega, pelo tempo que lhes dedica, pelas brincadeiras que, mesmo exausta, faz para lhes arrancar um sorriso do rosto.

Hoje, sei que não sou menos mãe por ter feito uma cesariana.

Não sou menos mãe por ter levado um corte em sete camadas da minha pele e posteriormente ter sido cozida, camada a camada.

Não sou menos mãe por, após o efeito da anestesia ter passado, ter sentido dores horríveis.

Não sou menos mãe por ter precisado de ajuda para sair da cama e por ter tido dificuldades em andar nos dias que seguiram o parto.

Não sou menos mãe por, mesmo com dores, ter-me levantado da cama a meio da noite para tratar do meu bebé.

Não sou menos mãe por, cinco meses após a cesariana, continuar a sentir dor quando espirro.

Não sou menos mãe por ter de esperar dois anos para poder engravidar novamente.

Não sou menos mãe por ter uma marca no fundo da minha barriga que nunca irá desaparecer.

Eu não sou menos mãe por ter feito uma cesariana.

Vemo-nos no próximo Estendal.
Até lá,
Flávia

Comentários

  1. Parabéns!!!! Acredita que não és menos mãe por teres a " marca" de um Amor que será eterno!!! Abraço e beijo embrulhado em muito carinho e amizade 💗🙏 e

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  2. Como eu te entendo 😊😘😘👦👦💪💪💪💪😅😅

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Ahahah já lá vão duas cesarianas e és uma excelente mãe 😀

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  3. Alô querida.. Continuo a ler o teu blog 😁 mais um post muito bom, apesar de como tu sabes sempre quiz cesariana.. Assustavam-me aqueles momentos de dor, só porque eu nunca tive nada..
    Beijinho grande continua que eu estarei cá para ler 🤗😘

    ResponderEliminar

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