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ESTOU A OUVIR OUTRO CORAÇÃO: SÃO DOIS BEBÉS

Quando eu e o Fábio íamos a caminho do consultório, especulávamos sobre como seria se o médico nos dissesse que eram gémeos. Rimo-nos mas assustados com a ideia. Se ter um bebé ao nosso cuidado já nos deixava nervosos não sei como seria se fossem dois de uma vez! Já no consultório, durante a ecografia, o médico perguntou "Querem quantos?". E nós, já a tremer, ficamos "Como assim?". Só estava lá um bebé e o médico estava, simplesmente,  a brincar connosco.

Mas, e se de facto fossem dois bebés? Pois, eu não sei como seria mas a Cristina sabe e ela vai contar-vos tudo sobre a experiência de ser mãe pela primeira vez de duas gémeas verdadeiras.

***
“Ai?! Estou a ouvir outro coração!”
Foi assim que tivemos a notícia de que eram gémeos, mas vou começar pelo início.


Sempre quis ter gémeos. Cada vez que via gémeos derretia-me a contempla-los. Quando soube que estava grávida, a ideia dos gémeos nunca me passou pela cabeça com exceção do momento em que contei ao meu marido e a primeira coisa que ele disse, depois de se recompor da emoção, foi “são gémeos”. Demos uma grande gargalhada e o assunto “gémeos” ficou por ali. Os meus pensamentos iam no sentido de saber se estaria tudo bem com o bebé, como seria a gravidez, se iria conseguir ser uma boa mãe… pensamentos iguais ao de tantas outras grávidas.

Às oito semanas chegou o dia da primeira consulta e da primeira ecografia. Alguns minutos depois do início da ecografia a médica, que já tinha ouvido o coração do bebé diz: “Ai!?” e, depois de uns segundos de pausa (que nos pareceram uma eternidade e que nos levaram a pensar mil coisas), continua “estou a ouvir outro coração!”. O meu marido levou a mão à cabeça e eu mantive-me pregada à maca. Eram dois! Foi um turbilhão de emoções.

Confesso que depois de saber que estava grávida de gémeos fiquei muito feliz e senti-me muito grata, afinal era algo que eu sempre tinha desejado. No entanto, além do “ser tão giro” começamos a pensar nas questões logísticas e, principalmente, nos riscos associados a uma gravidez gemelar. No meu caso, estavam na mesma placenta o que ainda poderia acarretar mais complicações.

Fisicamente passei uma gravidez muito tranquila mas admito que não a desfrutei por completo. Vivi-a sempre com muita ansiedade preocupada com o bem estar das bebés.


A partir das trinta semanas a médica disse que iria ter de analisar semanalmente a necessidade de efetuar o parto. Foram semanas de grande ansiedade e cada semana que passava era uma vitória. Mas as bebés não estavam a aumentar de peso e, às trinta e cinco semanas e um dia, a médica disse: “Se não crescem na sua barriga têm de crescer cá fora”.

Foi uma cesariana muito tranquila. Nasceram estáveis, mas com baixo peso (1,610kg e 1,835kg) e ainda sem o instinto de sucção, por isso tiveram de fica na neonatologia. Passados três dias tive alta e percebi que elas não podiam vir para casa comigo. Apesar de saber que estavam a ser muito bem acompanhadas, não estava preparada para regressar a casa sem elas. Afinal, era a primeira vez que nos separávamos e deixa-las foi muito difícil. No entanto, sabia que deixa-las lá era o melhor e foi a isso que me agarrei.

Ao fim de alguns dias colocou-se a possibilidade de uma das meninas ter alta e de outra ter de ficar mais alguns dias internada. Não me imagino com uma menina em casa e com a outra no hospital mas, estar a sujeitar uma criança ao meio hospitalar sem necessidade, também não era opção. Felizmente evoluíram ambas favoravelmente e, treze dias depois de nascerem, chegou o tão aguardado dia de as trazer para casa. As duas ao mesmo tempo. Foi um dia muito feliz.

Na chegada a casa sentimos o peso da responsabilidade. O tempo que passamos na neonatologia permitiu-nos aprender a cuidar delas, mas estarmos sozinhos, sem o apoio dos profissionais e de toda a monotorização que as bebé tinham no hospital, deixou-nos um pouco inseguros. Passados alguns dias e estabelecidas as rotinas tudo ficou mais simples.

Mas logo surgiam outros desafios. O meu marido teve de regressar ao trabalho e ficar sozinha com as duas obrigou a uma nova rotina. Houve momentos que não foram fáceis. Recordo-me de estar a amamentar uma menina e de ter de acalmar a outra que chorava com fome. Só experimentei amamentar as duas ao mesmo tempo uma vez e não gostei. Na minha opinião, aquele era o nosso momento e cada uma tinha o seu. Comecei a tentar desencontrar as horas das refeições, criei novas rotinas e foi muito mais fácil.

Nos três primeiros meses as noites não foram fáceis. Houve dias em que o meu marido foi trabalhar sem se ter deitado. Mas a partir dos três meses as bebés começaram a dormir a noite inteira. Maravilha!

Outro desafio era sair de casa. Até aos seis meses as nossas saídas resumiam-se às idas ao médico. As meninas nasceram em outubro, prematuras, e a chegada no inverno fazia com que eu tivesse muito medo que se constipassem e surgissem complicações no sistema respiratório. Por volta dos seis meses, já na primavera, começamos a sair mais mas um simples passeio à tarde implicava levar (quase) a casa às costas.


Passados sete meses tive de regressar ao trabalho. Não faço parte do grupo de mães que estão fartas de estar em casa e que sentem necessidade de voltar ao trabalho. Pelo contrário, estava muito habituada a passar o dia todo com as minhas bebés e foi difícil regressar ao trabalho e passar o dia longe delas.

Agora, passados dois anos e meio, o dia-a-dia e as saídas já são mais fáceis, mas outros desafios surgem. Elas são fisicamente muito parecidas e temos o desafio de as ajudar a criar a sua identidade e personalidade, individualmente, mas esse assunto dava outro post.

A pergunta que mais nos fazem: “Como é que as distinguem?”

A expressão que mais ouvimos: “É muito bonito mas é na casa dos outros!”

Para nós, é muito bonito. Na nossa casa. J 

Cristina Martins
***

Eu fui uma das pessoas que fez a pergunta previsível. É inevitável. Elas são iguais!

Ser mãe de primeira viagem de um bebé não é fácil. Ser mãe de primeira viagem de dois bebés, … ui! É giro, mas na casa dos outros. (Não resisti!!)

Obrigada pelo teu testemunho Cristina. Um grande beijinho para os quatro aí em casa ;)

Espero que tenham gostado.
Vemo-nos na próxima semana.

Até lá,
Flávia

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