Avançar para o conteúdo principal

TAMBÉM HÁ GRAVIDEZES MENOS BONITAS

O testemunho de hoje é da minha vizinha e amiga Lisa. Crescemos juntas. Foi a minha primeira amiga a casar e a ter filhos. Não esqueço o dia em que me ligou a anunciar o seu maravilhoso estado de Graça. Os meus olhos inundaram-se de lágrimas, tal era a felicidade. Acompanhei de perto as suas duas gravidezes e sei bem pelo que esta mãe passou.
Deixo-vos com as palavras da minha querida Lisa.

***
Vou contar-vos a história das minhas duas gravidezes: ambas desejadas mas ambas complicadas.
Sou mãe de duas meninas maravilhosas e sinto que nasci para ser mãe. No entanto, não posso dizer que estar grávida tenha sido uma das melhores fases da minha vida. Porque, de facto, não foi!
Há quase oito anos atrás nascia a minha princesa mais velha. Engravidei logo “à primeira” como se costuma dizer. Fiquei super feliz. Na primeira ecografia, o obstetra não conseguiu encontrar nenhum “feijãozinho” devido à gravidez ser tão recente. No entanto, foi possível detetar um septo uterio. Isto significava que tinha alguma coisa a dividir o meu útero e que as consequências poderiam ser aborto espontâneo ou parto prematuro. A falta de experiência e a felicidade de ter um teste positivo não me fez pensar muito nesse assunto e ainda bem pois na ecografia das 6 semanas já era visível um pontinho - o meu bebé - e o tal septo tinha desaparecido. Tudo corria bem até que...
Chegaram as 8 semanas de gestação e tive a primeira ameaça de aborto. Tive de ficar de repouso absoluto durante um mês. Só me podia levantar para ir à casa de banho. Este mês pareceu não ter fim.
Um mês depois, já com 12 semanas, o médico disse que estava tudo bem, que podia fazer uma vida normal e voltar ao trabalho. Finalmente voltava tudo a correr bem até que...
Chegaram as 14 semanas e fiquei novamente sem chão. Um pequeno descolamento da placenta levou-me a estar internada 4 dias e a estar de repouso absoluto por mais 1 mês. Estes dias em que temos de estar de repouso absoluto são horríveis. O tempo não passa e saber que temos de estar mesmo quietinhas porque o nosso corpo pode rejeitar o bebé... É difícil de aceitar.
Passado esse tempo e depois de ter perdido o meu emprego fiquei em casa a gozar a minha gravidez com calma. Comecei a inchar muito mas isso não me preocupava. A barriguinha crescia e eu gostava dessa mudança. Mas de repente... BOOM...
No dia 20 de março de 2012, com 29 semanas de gestação, o mundo virou-se, pela terceira vez, contra mim. Comecei a ter contrações. Mas como é que isso era possível. Ainda faltava tanto para as 40 semanas... As perguntas eram muitas e as respostas eram poucas. No hospital apenas me diziam “tem de fazer repouso para a criança não nascer”. Nascer? Como assim? Ainda faltava tanto para junho (altura prevista para o parto).
Estive internada nos cuidados intensivos onde só podia ter uma visita curtinha do meu marido ao final do dia. Para além da medicação para parar as contrações, também recebi medicação para ajudar a desenvolver a formação do pulmão da minha menina. As horas iam passando devagarinho...
Quatro dias depois subi para o quarto e já pude receber visitas mas a vontade de ver pessoas era nenhuma. As dores eram tantas que me cansava só de falar.
E chegou o dia 25 de março, o dia em que nasceu a Maria. Às 29 semanas e 5 dias, pelas 20:18, o meu corpo não conseguiu segurar mais a minha menina e ela teve de nascer. O meu mundo desabou. Era suposto aquele momento ser o mais feliz da minha vida. Era suposto a minha bebé nascer perto das 40 semanas. Era suposto colocarem-na no meu colo mal ela nascesse. Era suposto poder olhar para a carinha dela. O que não era suposto acontecer era a minha menina ser colocada dentro de um saco de plástico e levada para longe de mim.

Como os bebés prematuros são muito pequeninos, o saco de plástico (próprio para bebés, claro!) é a única forma de não perderem o pouco calor que o seu copo consegue produzir. Levaram-na para a incubadora. O pai foi com ela e eu fiquei ali. Sozinha na sala de partos sem a minha menina.
Foi uma luta longa. Ela nasceu muito pequenina, com 1,169 kg e, como tal, no dia em que me deram alta, não lhe deram alta a ela. Foi duro chegar a casa e não ter a minha menina como todos os pais têm. Acordava sem saber se chegava ao hospital e se teria notícias positivas relativas ao estado de saúde dela. Vivi quase dois meses naquele hospital. Só não dormia lá porque não deixavam. Vi a minha menina ser picada todos os dias, tinha cateteres por todo o lado e só lhe podia tocar com um dedinho. Cada dia que passava era uma vitória.



No dia 15 de maio ela teve alta e foi um misto de alegria e de angústia. Eram muitas as dúvidas e era enorme o receio de falhar. Mas, felizmente, os dias que passei no hospital tornaram-me mais forte e tudo correu lindamente. Finalmente podia realizar o sonho de levar a minha bebé para casa.
Embora a má experiência da primeira gravidez me tivesse assustado, nunca duvidei de que queria dar um irmão à Maria. Neste caso irmã. Em maio de 2017 o teste de gravidez deu positivo e ficamos os três super felizes.

Vivi cada dia intensamente para que nada fosse como na primeira gravidez. Estava muito feliz pelo simples facto de conseguir ir trabalhar estando grávida... mas mais uma vez o destino quis pôr-me à prova.

Às 16 semanas comecei com contrações e, com o meu historial clínico, a única solução era ir para casa de repouso. Não precisaria de ficar sempre na cama, mas teria de reduzir em muito todas as lides domesticas e não poderia conduzir.
A segunda gravidez também não foi fácil. Consegui chegar às 39 semanas, mas foram várias as vezes que desejei que a minha bebé nascesse mais cedo mesmo com tudo o que isso poderia implicar. O oitavo mês de gestação foi bastante doloroso. Estava muito inchada, tinha imensas dores nos braços e nas mãos quando tentava dormir, rebentava-me o sangue do nariz 4 a 5 vezes por dia... Cheguei a ter medo de morrer na hora do parto.
Mas tudo correu bem e no dia 5 de janeiro de 2018 nasceu a princesa mais nova, a Clara. E este parto em nada teve a ver com o primeiro. Finalmente vivi o parto de sonho que me foi roubado há 6 anos atrás. Peguei na minha filha, pude olhar para ela e perceber que a vida é maravilhosa.
Nem todas as mulheres vivem a gravidez como um conto de fadas. Por vezes, as mulheres que, como eu, admitem não gostar da fase da gravidez são muito criticadas. Mas como é que podemos gostar de uma fase em que vivemos sem qualidade de vida? É claro que tudo compensa e a maternidade é simplesmente maravilhosa.
Provavelmente ficarei pelas minhas duas princesas mas, apesar de ter tido duas más experiências, se vier um terceiro filho, não me irei importar nada. Afinal nasci mesmo para ser mãe.
***
Um testemunho incrível e que, mesmo conhecendo a história de trás para a frente, me faz arrepiar. Estas duas pequenas são as minhas sobrinhas de coração que têm uma mãe maravilhosa. Sim, Lisa. Não há dúvidas de que nasceste para isto. Eu cá estou a torcer pela terceira gravidez ;)
Obrigada por esta partilha tão pessoal. Um beijinho para ti.
Quanto a vocês, vemo-nos na próxima 3f?
Até lá,
Flávia


Comentários

Mensagens populares deste blogue

A MÃE DA MÃE

Quando era mais pequena recorria à minha mãe sempre que me deparava com algum aperto, fosse ele qual fosse. Ela estava sempre lá para me dar o seu colo gratuito e garantido.  Muitas vezes penso na minha mãe. No que ela me ensinou e no que ela me continua a ensinar. Ainda hoje continuo a recorrer a ela mais vezes do que provavelmente seria de esperar de uma menina-mulher-mãe. Porque, no fundo é isso que eu sou: mulher-mãe mas menina. A menina da minha mãe!  Lembro-me das primeiras vezes que o Vicente ficou doente ou daquela vez que ele bateu com a boca no chão e ficou a sangrar. O meu primeiro instinto foi ligar à minha mãe pois ela saberia o que fazer. Porque é assim, não é? As mães tudo sabem! Mas, de repente, caiu-me a ficha: "Flávia, tu também és mãe, por isso: DESENRASCA-TEEEE!". E foi isso mesmo que eu fiz! Mas a minha mãe será sempre a minha mãe e a tendência para recorrer a ela não me parece que vá desaparecer. De igual modo, eu serei sempre a sua a filha e o seu insti...

TUDO SOBRE O MEU CASAMENTO

Dizer que o dia 15 de julho de 2017 foi um dos dias mais felizes da minha vida pode parecer banal mas é, sem dúvida, verdadeiro. Parece que foi ontem, mas já passaram dois anos. E mesmo passados este dois anos, continuo a sentir borboletas na barriga quando me lembro dos vários momentos deste dia. Hoje falo-vos sobre o meu casamento e, como não podia deixar de ser, deixo-vos os meus conselhos. ** Passados dois anos o que mudava? 1. A quinta Escolhemos fazer a festa do nosso casamento na Quinta da Fonte (QF) em Ferreira do Zêzere. Escolhemos esta quinta por ir de encontro ao estilo rústico. A quinta fica no meio de vinhas e pinhais e é, na minha opinião, muito bonita. A minha maior crítica em relação à quinta consiste na sua limitação de espaço no salão. O meu casamento tinha cerca de 300 pessoas. Foi-me garantido pela proprietária da QF que o salão tinha capacidade para 400 pessoas. E a verdade é que tem! Mas para caberem tantas pessoas lá dentro não haveria esp...

SOMOS TRÊS MAS VAMOS PASSAR A SER QUATRO

E finalmente partilho convosco a grande notícia que tenho guardado durante os últimos meses: vou ser mãe pela segunda vez! Isso mesmo, estou grávida e não podia estar mais feliz. Vamos dar um mano ou uma mana ao Vicente. OMG! Vamos ter dois filhos… E o que isto tem de maravilhoso tem também de assustador. Hoje conto-vos como descobri, como anunciei ao Fábio e como partilhamos a notícias com a nossa família e amigos. O teste de gravidez deu um positivo inesperado. Eram 6h30 da manhã. O Fábio já tinha saído para trabalhar, a minha mãe e o Vicente estavam a dormir e eu ia sair entretanto para trabalhar. Tinha a cabeça a mil. Tinha regressado ao trabalho da licença de maternidade há quatro dias atrás e estava grávida outra vez. Tive receio da reação do Fábio. Receio de que ficasse tão assustado quanto eu. Não lhe contei nesse dia. Esperei que a minha mãe se fosse embora e contei-lhe no dia seguinte. Não foi fácil guardar esta informação só para mim. Quando a minha mãe me deu o...