Era dia 8 de maio e o relógio marcava 15 horas e 28 minutos quando ouvi o choro dele. Segundos depois, éramos dois a chorar. O meu Mateus tinha finalmente nascido.
"Mamã, quer cortar o cordão umbilical?", ouvi por fim. A alegria que invadia o meu coração deixou-se intimidar pela ausência paternal que existia naquela sala de partos. Faltava ali o Fábio. Deveria ser ele a cortar o cordão umbilical e não eu. Maldito Corona vírus que muito nos tirou.
"Mamã, quer cortar o cordão umbilical?", ouvi por fim. A alegria que invadia o meu coração deixou-se intimidar pela ausência paternal que existia naquela sala de partos. Faltava ali o Fábio. Deveria ser ele a cortar o cordão umbilical e não eu. Maldito Corona vírus que muito nos tirou.
Cortei o cordão umbilical, que se revelou uma tarefa mais complicada e escorregadia do que imaginara, e foi então que o colocaram no meu peito. Quente, suave, acinzentado e cabeludo. De olhos bem abertos, fazia sonzinhos de bebé e "comia" as suas mãozinhas. O relógio parou naquele momento e todo o cansaço, fome, sede e sono desapareceram. Acabara de dar à luz o meu bebé. O meu segundo filho.
Decorreram 18 horas desde que dei entrada no hospital até o Mateus nascer. Levei a epidural por volta da uma da manhã e pensei que as coisas estivessem controladas no que diz respeito à «dor». Só que não! Mas já lá vamos... Mesmo assim, confesso que me metia mais medo o teste à Covid-19 (e tinha razões para tal!) do que propriamente o parto.
Passei a noite a enviar mensagens de texto e de áudio para a família e amigas e ia dormitando quando a epidural era reforçada. Ao amanhecer, o cansaço era imenso, a paciência era pouca, os nervos começavam a surgir e a dilatação parecia ter parado no tempo. De repente entrou uma médica no quarto que me rebentou as águas e, como que por magia, a dilatação ficou quase completa.
Mas faltava o quase e esse quase foi o pior de todos. A epidural deixou de fazer efeito num dos lados e a última hora foi só horrível. Sei que fiz uma vídeochamada com o Fábio perto das 14h e disse-lhe que estava tudo bem, que o bebé devia estar quase a nascer e que era provável que ficasse incontactável a qualquer momento. Mentirinha!
A verdade é que eu estava cheia de dores e não queria que ele se apercebesse. Lembro-me que o quarto tinha uma clarabóia que me permitia ver o céu. Tentei focar-me naquele azul celeste e abstrair-me de tudo o resto mas as dores eram insuportáveis.
Mãe, como é que me tiveste sem epidural?
Mulheres de antigamente, como é que aguentavam ter filhos e mais filhos, em casa, sozinhas, sem qualquer anestesia?
AH LEOAS!!
Eram 14h45 e estabeleci um pensamento "O Mateus quer nascer à mesma hora que o mano nasceu: 15h15. Falta meia hora. Eu aguento. Bora lá!". Quinze minutos depois chorava compulsivamente! Toquei à campainha a suplicar para verificarem se a dilatação já estava concluída. Acho que fiquei sem dores quando a enfermeira parteira me disse "Dilatação completa. Vamos parir.". Tanto que eu queria ouvir aquilo.
Tinha comido apenas três gelatinas desde que dera entrada no hospital. Sentia-me sem forças. Ter uma máscara na cara só piorava a situação. Por momentos achei que o bebé não ia sair! Felizmente, uma médica saltou, literalmente, para cima da minha barriga e deu-me a ajudinha extra que faltava para o Mateus nascer.
As medidas adaptadas à realidade Covid implicavam que o pai apenas pudesse visitar a mãe e o bebé durante 2h num horário específico. Assim, o Fábio só pode conhecer o Mateus presencialmente no dia seguinte.
A vídeochamada que lhe fiz a apresentar o Mateus foi dolorosa. Ele chorava e eu também. Ver o Vicente também não ajudou em nada. Só queria os dois ao pé de mim, de nós, imediatamente! Mas ainda tinha de passar por mais uma noite sem eles.
Contava as horas para que o Fábio entrasse por aquela porta. Só o queria abraçar. E foi isso mesmo que recebi: o abraço apertado que me faz sentir segura. Aquele abraço que só ele sabe dar. De repente, tudo começava a fazer sentido. Mas ainda faltava uma pessoinha para que a felicidade fosse plena. Era só mais uma noite...
Finalmente chegou o momento de irmos para casa. Estava em pulgas. Só conseguia pensar no Vicente. Achava que ele não tinha sentido a minha falta porque nas vídeochamadas ele não mostrava muito interesse. Mas quando me viu entrar em casa, veio abraçar-me e não parava de rir. Ele ria e eu chorava! :) Eram tantas as saudades que ambos tínhamos um do outro.
E foi assim que passamos a ser quatro.
Amo os meus filhos. Amo o meu marido. Amo a minha família. Mais do que tudo neste mundo.
Não podia pedir mais a Deus. Sou abençoada.
Ser mãe não é fácil. Ser mãe de dois é ainda uma bocadinho menos fácil. Mas isso fica para outro Estendal.
Um grande beijinho,
Flávia
Adorei! 🥰😍
ResponderEliminarMinha querida, eu passei por um parto com epidural e um sem epidural e sinceramente, se fosse hoje que nascesse a Maria Helena, escolhia sem epidural. Sim, doeu muito ter o Miguel sem epidural, andei 2 dias que não mexia os braços de ter feito tanta força para controlar as dores das contrações, mas não me "adormecem" as costas (na zona onde se leva a epidural) quando estou a dar mama durante a noite... Sei que és uma MULHER forte e que aguentavas se não houvesse epidural! Beijinho no teu ❤
Ai Margarida não sei! Quando for ao terceiro vou querer novamente a epidural 🙈 aquelas dores não foram nada simpáticas.
EliminarLamento que a epidural tenha tido esses efeitos secundários.
Um enorme beijinho
Este comentário foi removido pelo autor.
EliminarAntes de mais muitos parabéns pelo seu bebé. Ainda bem que estão todos bem mas ainda assim gostava de alertar para o facto de a manobra que lhe foi feita para "ajudar a nacer o bebé" é a manobra de Kristeller.
ResponderEliminarA manobra de Kristeller é uma intervenção no período expulsivo que envolve a aplicação de pressão manual na parte superior do útero em direção ao canal do parto. Esta é uma prática desaconselhada segundo a mais recente evidência científica, relatada como desconfortável e perigosa (WHO, 2018). Atualmente, é um procedimento que se enquadra no âmbito da violência obstétrica (Human Rights in Childbirth, 2015).
Não quero com isto tornar o seu parto menos positivo para si mas é importante as pessoas saberem que esta manobra não é um "felizmente", é perigosa e há muito desaconselhada.
Muito obrigada pela informação. Não fazia ideia e estou chocada!!!
EliminarFelizmente tudo correu bem.
Um beijinho